O Grande Mestre Carlos Gracie foi apresentado ao Jiu-Jitsu aos 14 anos de idade por Mitsuyu Maeda (conhecido no Brasil como Conde Koma) e se tornou um ávido aluno por alguns anos. Foi o responsável pela transformação e aperfeiçoamento do Jiu-Jitsu japonês tradicional, criador do Gracie Jiu-Jitsu ou Jiu-Jitsu Brasileiro e precursor do MMA, sendo professor e mentor dos irmãos, e criador da Dinastia Gracie.
O Jiu-Jitsu Brasileiro foi criado no Brasil no início do século XX, e o Carlos Gracie, que estava interessado numa autodefesa para as ruas, rapidamente modificou as técnicas clássicas que ele aprendeu com Conde Koma para atender às demandas da realidade, não há regras lutando nas ruas.
Para construir uma tradição familiar, Carlos desafiou os maiores lutadores da época. Combatendo os oponentes cinquenta ou sessenta quilos mais pesados, os lutadores da família Gracie rapidamente ganharam reconhecimento e prestígio.
O jovem Carlos Gracie testou e refinou seu sistema através de desafios constantes, abertos a todos os interessados, trabalhou constantemente para torná-lo mais eficaz. Em um ponto, ele ainda anunciava em jornais e nas esquinas das ruas a procura de novos adversários com a finalidade de praticar e refinar ainda mais a sua arte. Ele lutou contra toda e qualquer pessoa que estivesse disposto, independentemente do tamanho, peso ou estilo de luta.
Por volta dessa época, nascia o “estilo MMA” de luta. Seu estilo era tão eficaz que Carlos Gracie não foi derrotado e se tornou uma lenda no Brasil.
Tendo criado um eficiente sistema de Defesa Pessoal, Carlos Gracie viu na arte uma maneira de se tornar um homem mais tolerante, respeitoso e autoconfiante. Com o objetivo de provar a superioridade do Jiu-Jitsu.
Esta tradição de desafios é uma parte da herança do Gracie Jiu-Jitsu. Carlos Gracie preocupado com o bem estar da família os envolveu em seu projeto de vida. Ele sabia que seria impossível realizar um trabalho tão grande sozinho e começou a ensinar seus irmãos mais novos – Oswaldo (1904), Gastão (1906), George (1911), Hélio (1913) e seus filhos, e eles por sua vez, seus sobrinhos, primos e netos. A primeira geração de irmãos Gracie que criou o espírito da família e foi transmitido por gerações, tão importante para o extraordinário sucesso que a Família Gracie alcançou ao longo dos anos.
Atraídos pelo novo mercado que foi aberto em torno do Jiu-Jitsu, muitos praticantes japoneses vieram para o Rio de Janeiro, mas nenhum conseguiu estabelecer escolas tão bem sucedidas quanto os Gracie. Isso se deve ao fato de os lutadores japoneses estarem mais focados em quedas e arremessos, e o Jiu-Jitsu praticado pela família Gracie tinha técnicas de luta e finalização mais sofisticadas. Carlos e seus irmãos mudaram as técnicas de tal forma que alteraram completamente a aparência dos princípios internacionais do Jiu-Jitsu. Essas técnicas eram tão distintivas para Carlos e seus irmãos que o esporte se tornou ligado a uma identidade nacional, e agora é comumente conhecido como Jiu-Jitsu Brasileiro, praticado por lutadores de todo o mundo, incluindo o Japão.
Depois Carlos Gracie retirou-se, e passou a gerenciar a carreira de luta de seus irmãos e filhos, continuando a desafiar lutadores de todos os estilos em todo o mundo. Esta tradição de desafios foi continuada por seus irmãos, filhos, sobrinhos, netos, e seus alunos, que têm consistentemente demonstrado a superioridade do estilo Gracie Jiu-Jitsu em lutas reais em todo o mundo.
Carlos também lhes transmitiu sua filosofia de vida e conceitos de alimentação natural, sendo um pioneiro na criação de uma dieta especial para atletas, a Dieta Gracie, transformando o Jiu-Jitsu em sinônimo de saúde.
Carlos Gracie teve 21 filhos e seu irmão mais novo Hélio teve sete filhos, criando uma dinastia de lutadores Gracie e instrutores mais respeitados do mundo. Nestes eventos ou desafios, representantes da família Gracie ou seus alunos têm constantemente demonstrado, em concorrência aberta contra outros estilos de artes marciais, que o estilo de Gracie Jiu-Jitsu é a arte de luta mais eficaz no mundo de hoje.
Hélio Gracie, o mais novo dos oito filhos (três eram meninas) de Gastão e Cesalina Gracie, sempre havia sido uma criança fisicamente delicada: subia um lance de escadas e tinha vertigens, ninguém sabia por quê. Depois de completar a segunda série, convenceu a mãe de que não tinha saúde suficiente para continuar frequentando a escola. Ela concordou, e ele nunca mais voltou aos estudos.
Quando a família enfrentou dificuldades financeiras, após mudar-se para o Rio de Janeiro, algumas das crianças foram viver com outros parentes. Hélio foi morar com suas tias e, por meio desses contatos familiares, encontrou emprego de timoneiro em um popular time de remo local, mudando-se depois de algum tempo para o dormitório do time.
Seu espírito indomável e grande senso de humor combinavam-se para que ele estivesse sempre “pintando o sete”. De fato, sua incansável capacidade de exasperar as pessoas à sua volta lhe valeu o apelido de “Caxinguelê”.
Aos 14 anos, ele foi morar com seus irmãos mais velhos, numa casa em Botafogo, bairro do Rio de Janeiro, onde ensinavam jiu-jítsu. Por recomendações do médico, Hélio passou os próximos anos limitado apenas a observar as aulas dadas por seus irmãos.
Certo dia, quando Hélio tinha 16 anos, um aluno chegou para tomar aula com Carlos, que havia saído. Hélio, que tinha memorizado todas as técnicas ao assistir seus irmãos ensinando, ofereceu-se para começar a aula. Quando a lição terminou, Carlos chegou, pedindo desculpas pelo atraso. O aluno respondeu: “Não se preocupe. Gostei muito da aula com Hélio. Se você não se importar, eu gostaria de ter aulas com ele de hoje em diante.” Carlos concordou, e Hélio tornou-se professor.
Hélio logo percebeu que, devido a seu físico frágil, não conseguia executar facilmente a maioria das técnicas que havia aprendido ao observar as aulas de Carlos. Com a determinação de executá-las eficientemente, começou a modificá-las para que se adaptassem à sua frágil constituição física. Enfatizando os princípios de alavanca e a escolha do momento certo para aplicar as técnicas, em vez da força e da velocidade, Hélio praticamente modificou todas as técnicas e, por meio de tentativas e erros, criou o Gracie Jiu-Jitsu, o Jiu-Jitsu Brasileiro.
Para provar a eficácia de seu novo sistema, Hélio desafiou publicamente todos os praticantes de artes marciais mais respeitáveis do Brasil. Participou de 18 lutas, incluindo desafios contra o antigo campeão mundial peso pesado de luta-livre, Wladek Zbyszko, e o segundo maior judoka do mundo na época, Kato, a quem Hélio estrangulou e deixou desacordado após 6 minutos de combate. Sua vitória contra Kato qualificou-o para subir no ringue contra o campeão mundial Masahiko Kimura, quase 35 quilos mais pesado que Hélio.
Em um acontecimento digno de um filme de Hollywood, certa vez ele saltou em águas infestadas de tubarões no oceano Atlântico para salvar um homem que se afogava. Esse feito heróico conferiu-lhe a medalha de honra ao mérito.
Aos 43 anos, Hélio e seu adversário Waldemar Santana, um ex-aluno, bateram o recorde mundial do mais longo combate de vale-tudo da história, quando lutaram, incrivelmente, durante 3 horas e 40 minutos, sem intervalos!
Hélio, amplamente considerado o primeiro herói do esporte na história brasileira, também desafiou ícones do boxe, como Primo Carnera, Joe Louis e Ezzard Charles. Todos recusaram.
Uma lenda contemporânea, Hélio Gracie conquistou aclamação internacional por sua dedicação à divulgação da arte e da filosofia do Gracie Jiu-Jitsu. Homem devotado à família, exemplo de vida saudável, Hélio Gracie foi um símbolo de coragem, disciplina e determinação, e uma inspiração para todos os que o conheceram.